Anemia Infecciosa Eqüina: diagnosticar e controlar

A anemia infecciosa eqüina (AIE) é uma afecção cosmopolita dos eqüinos, causada por um RNA vírus do gênero Lentivirus, da família Retrovírus. O vírus, uma vez instalado no organismo do animal, nele permanece por toda a vida mesmo quando não manifestar sintomas. É conhecida também como febre dos pântanos (“swamp fever”), porque nas áreas pantanosas a população de insetos hematófagos, vetores naturais da natureza, é muito grande e os animais ficam mais expostos à contaminação. É uma doença essencialmente crônica, embora possa se apresentar em fases hiperaguda, aguda e subaguda. A sintomatologia caracteriza-se por episódios febris, perda de peso, debilidade progressiva, mucosas ictéricas, edemas subcutâneos e anemia.

A etiologia viral foi estabelecida no início do presente século por dois pesquisadores, que demonstraram que o agente era infeccioso e filtrável. Em 1961, KOBAYASHI realizou estudos da propagação viral “in vitro”, logrando êxito nas culturas de medula óssea e de leucócitos. Os trabalhos de Kobayashi foram a base para propagação viral “in vitro”. O vírus RNA da AIE tem uma estreita afinidade com o vírus da imunodeficiência humana (HIV), verificada através de análises antigênicas e genéticas. A reatividade sorológica cruzada entre o vírus da AIE e o da imunodeficiência humana tem sido documentada. As lentiviroses induzem infecções persistentes em seus hospedeiros naturais, lançando substanciais desafios para o desenvolvimento do imunógeno. O vírus sofre mutação antigênica logo após sua entrada no organismo do animal, provocando a formação de novas variantes e impossibilitando qualquer tratamento ou vacinação, como ocorre na síndrome da imunodeficiência adquirida, AIDS.

O cavalo doente é o principal elo na cadeia epidemiológica. O eqüinos são os únicos animais suscetíveis ao vírus da AIE e não há contágio direto de um animal a outro. Estudos epidemiológicos têm demonstrado que os vetores naturais envolvidos são os Dípteros, incluindo-se a mosca do estábulo (Stomoxys calcitrans) e a mosca do cavalo (Tabanus sp). Ambos caracterizam-se pela hematofagia e telmofagia em conseqüência à picada dolorida que conduz o cavalo a defender-se dos vetores. A importância do tabanídeo deve-se à menor persistência do mesmo no organismo de um mesmo cavalo, devido ao alto grau de irritação que causa. A partir do aparelho bucal de tabanídeos foi possível recolher aproximadamente 5 nl de sangue total e 10% desse volume (10-6 a 10-5 ml) seria suficiente para infectar um cavalo. A Stomoxys calcitrans ingere pequena quantidade de sangue, razão pela qual necessita de muitos repastos sangüíneos. O vírus no aparelho bucal da mosca do cavalo perde a infectividade antes de 4 horas.

É importante saber-se quais são as fontes de vírus. Durante as crises febris ou mesmo um pouco antes, o sangue é extremamente virulento e alguns animais, mesmo na ausência de febre e de sintomas clínicos, conseguem manter uma alta taxa de viremia por um período de tempo. Juntamente com o sangue, que é o elemento mais importante durante a crise, vários órgãos, em particular o fígado e o baço, podem abrigar o vírus. Os produtos de secreção, como muco, saliva e lágrimas, podem ocasionalmente, ter vírus durante a crise febril mas não têm influência na transmissão. Na urina só é possível se evidenciar a presença do vírus quando se utilizam grandes quantidades com finalidade de transmissão experimental. Com materiais fecais, praticamente tem sido impossível, mesmo nas crises febris, se detectar o vírus. Outros meios de transmissão podem ocorrer. É muito comum a transmissão da égua para o potro; se a égua estiver clinicamente doente, ela poderá infectar o potro de duas maneiras: intra-uterinamente, transferindo o vírus para o feto, ou logo após o nascimento, através do colostro. Entretanto, pode ocorrer que a égua passe para o potro somente anticorpos pelo colostro. Nesse caso, o animal deve ser repetidamente examinado e seu soro sangüíneo submetido ao diagnóstico sorológico específico logo após o desmame, ou seja, de cinco a seis meses de idade. O resultado deverá ser negativo. Se durante a amamentação o potro foi infectado, o resultado do teste será positivo, mesmo após o desmame. Potros nascidos de éguas doentes, se não estiverem infectados, podem ser salvos se separados da égua logo após o nascimento e alimentados artificialmente. O grande temor dos criadores e proprietários é encontrar um garanhão infectado. O animal desse porte exige intensos cuidados, haja vista representar um grande investimento. A possibilidade dele se infectar ocorre ainda quando é jovem, misturado com outros cavalos. O garanhão, no momento da cobertura pode transmitir a anemia infecciosa se estiver numa fase de viremia, isto é, quando há uma exacerbação do vírus no organismo do animal e grande quantidade de vírus no sêmen. Se estiver numa fase crônica, será difícil ocorrer a transmissão. O período de incubação da anemia infecciosa é variável e depende da dose infectante com que o animal se infectou; pode ser de 3 a 70 dias, porém a média é de 15 a 20 dias. Uma vez infectado, o cavalo torna-se um portador permanente da AIE, independente da ausência ou severidade dos sintomas, passando a ser um foco em potencial, e por isto deve ser eliminado.

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