Chlamydia: patógeno importante para os animais e para o homem

Elba Alvarez, M.V., MSc, PHD

A Chlamydia é uma bactéria gram-negativa, seu genoma é pequeno sendo 1 x 106 pares de bases, são obrigatoriamente intracelulares, incapazes de sintetizar ATP. Sendo descrita em três espécies: Chlamydia pneumoniae, Chlamydia trachomatis e Chlamydia psittaci  Apresentam duas formas morfologicamente distintas o corpo elementar que é  a forma infectante e de sobrevida extracelular limitada e o corpo reticulado que é a forma metabolicamente ativa e obrigatoriamente intracelular.

A Chlamydia psittaci produz uma variedade de infecções em aves e mamíferos e, em humanos, causa pneumonias pela inalação de partículas infectadas pela secreção das aves. O microrganismo pode sobreviver por períodos longos em fezes e secreções secas. Os sinais clínicos associados com infecções crônicas e de baixo grau incluem deficiente cobertura de plumagem, emaciação, diarréia e algumas vezes conjuntivite. Pode ocasionar infecção localizada e conjuntivite nos fringilídeos. A conjuntivite e descarga nasal são características de clamidiose nos pombos domésticos e patos e gansos infectados. Ao exame macroscópico podemos observar hepatomegalia, peritonite, aerossaculite, perihepatite, pericardite, broncopneumonia, enterite e nefrose. Esplenomegalia é freqüentemente encontrada. Em machos sexualmente ativos, a clamidia induz a orquite ou epididimite resultando em infertilidade permanente. A clamidiose é comumente o agente causal de hepatite em psitacídeos. Em exames radiológicos em animais em contato recente com outros animais acometidos pelo agente observa-se hepatomegalia. O curso clínico da infecção pode ser na forma “aguda” ou “subaguda-crônica”, com base no tempo de evolução, na gravidade da apresentação clínica. Sua ingestão pode ocasionar infecção das células epiteliais intestinais, a transmissão vertical através do ovo tem sido descrita em algumas espécies como, por exemplo, o pato, periquito, gaivota, e sugerido em perus. O agente pode ser identificado nas fezes até 10 dias antes do aparecimento clínico da doença. A clamídia pode ser encontrada de maneira regular ou intermitente nas fezes, urina, fluido lacrimal, secreção nasal, mucosa oral, leite de papo (pombos). As informações, até o momento, são insuficientes para estabelecermos o período exato em que os animais acometidos podem transmitir a doença. Cabe aqui ressaltar que algumas aves podem ser portadoras assintomáticas do agente e transmiti-lo por até um ano para outros animais ou ambiente. Aves jovens expostas a clamídia com alta virulência apresentam óbito após sintomatologia de infecção sistêmica. Como sinais clínicos, temos penas arrepiadas, baixa temperatura corporal, tremores, letargia, conjuntivite, dispnéia, coriza (pombos) e sinusite (periquitos). Emaciação, desidratação fezes amarelo-esverdeadas sugerindo comprometimento hepático, ou acinzentadas com grande quantidade de líquidos. A morte ocorre entre 8 – 14 dias, sendo que uma recuperação espontânea é rara. Psitaciformes ocasionalmente desenvolvem sinais neurológicos, convulsões, tremores, opistótono e paralisia.

As espécies trachomatis e pneumoniae são reconhecidas como patógenos humanos, e a psitacci é reconhecida primariamente como patógeno animal. A psitacci infecta aves, bovinos e ovinos e pode desencadear em humanos uma doença respiratória por exposição ao material infeccioso (geralmente fezes de aves infectadas). Em humanos as manifestações clínicas são determinadas pelo mecanismo de transmissão e pela propriedade da cepa infectante. Epidemiologicamente as infecções por Chlamydia trachomatis dividem-se em 3 categorias: tracoma clássico, doenças sexualmente transmissíveis e infecções perinatais oculares. Com aproximadamente 90 milhões de casos anuais, a infecção por Chlamydia trachomatis é a DST (doença sexualmente transmissível) de maior prevalência no mundo. Considerando que esta infecção é freqüentemente assintomática e leva a outras implicações, como doença inflamatória pélvica aguda, gravidez ectópica, infertilidade e pneumonia infantil, o custo estimado nos Estados Unidos para diagnóstico e tratamento é de 2,2 milhões de dólares para cada 500 casos. Sendo assim, esta infecção é um importante problema de saúde pública, especialmente em países do terceiro mundo e em desenvolvimento.

Algumas espécies como os cães, gatos, cavalos, porcos e o homem parecem não transmitir a clamídia para membros da mesma espécie. Em contraste, aves infectadas, gado, ovelhas e cabras podem transmitir aos membros de mesma espécie. A Chlamydophila abortus (anteriormente classificada como Chlamydia psittaci sorotipo) tem sido descrita em muitos países, associada principalmente com distúrbios reprodutivos em ovinos, bovinos e caprinos. O aborto enzoótico dos ovinos e caprinos e o aborto epizoótico dos bovinos são as doenças mais importantes causadas por esta bactéria. O estresse pode resultar em sinais clínicos ou aumento da eliminação do microrganismo nos portadores. Além do estresse, outros fatores podem ser incriminados, como possíveis desencadeantes como transporte marinho, super população, e acasalamento á diferenças consideráveis entre os sintomas apresentados por espécies diferentes a clamídia. Aves jovens são mais susceptíveis do que os mais velhos. Os papagaios e araras parecem ser mais sensíveis do que os psitacídeos asiáticos e australianos.

Atualmente os métodos mais utilizados para diagnóstico da clamídia são a imunofluorescência e o ensaio imunoenzimático e utilização do método de detecção do ácido nucleico através do sistema de Captura Híbrida, fixação de complemento, aglutinação em látex e aglutinação de corpos elementares e PCR utilizando iniciadores de oligonucleotídeos específicos  .

Tanto as aves como os humanos infectados podem ser facilmente tratados com o uso correto de antibiótico específico sendo possível ficarem completamente curados.

 

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