Alterações do Ciclo Estral Em Cadelas

Cristiane Musolino Carolina de Oliveira Ghirelli Luciana Montel Moreno Acadêmicas do quarto ano de Medicina Veterinária /2000 Universidade de São Paulo.

ÍNDICE

1. Introdução
2. Ciclo estral normal em cadelas
2.1 Início da puberdade
2.2 Intervalo entre os ciclos
2.3 Fases do ciclo
2.4 Proestro
2.5 Estro
2.6 Diestro
2.7 Anestro

3. Infertilidade
3.1 Cistos ovarianos
3.2 Neoplasias ovarianas
3.3 Intersexo
3.4 Hiperadrenocorticotismo
3.5 Hipotireoidismo

4. Infertilidade em cadelas com ciclos anormais
4.1 Anestro persistente
4.1a Anestro primário
4.1b Anestro secundário
4.2 Proestro/Estro persistente
4.3 Ninfomania
4.4 Intervalos interestros diminuídos
4.5 Split heats
4.6 Intervalos interestros aumentados
4.7 Cio silencioso
4.8 Estro diminuído

5. Casos na literatura
5.1 Proestro prolongado em cadelas com X monossomia        cromossômica (77,X0)
5.2 Indução do estro em cadelas com anestro normal e persistente usando gonadotrofina menopausal humana (hMG)

6. Levantamento em clínicas veterinárias
6.1 Carta de apresentação
6.2 Questionário
7. Conclusão
8. Agradecimentos

9. Referências bibliográficas

1. INTRODUÇÃO

A escolha do grupo em realizar um trabalho que abrangesse as alterações que podem ocorrer no ciclo estral de cadelas, surgiu em primeiro lugar porque consideramos essas patologias de grande significância.

Em várias situações, incluindo o nosso dia a dia, escutávamos as pessoas comentando sobre problema no ciclo de seus animais de estimação: cadelas que não estavam mais “entrando no cio”, até o oposto, cadelas que estavam “entrando em cio” muito freqüentemente ou mesmo por períodos prolongados.

Sabíamos que era um assunto importante, já que essas alterações certamente interfeririam na fertilidade dos animais, obviamente acarretando muitos prejuízos aos criadores. E ainda que não houvesse interesse dos proprietários em cruzar seus cães, dependendo da alteração presente, os incômodos trazidos são de grande importância; exemplificando, uma cadela com secreção vaginal por um período prolongado dentro de casa, logicamente atrapalha o proprietário. Além do que, considerando que algumas alterações decorrem de patologias primárias, a saúde do animal também pode estar afetada.

Nesse contexto, vimos nesse trabalho uma oportunidade para conhecermos com maior profundidade o ciclo estral nas cadelas, suas alterações, etiologia, diagnóstico, e possível tratamento destas.

2. O CICLO ESTRAL NORMAL EM CADELAS

(Feldman,E.C., 1987)

2.1 Início da puberdade

Normalmente as cadelas exibem seu primeiro ciclo alguns meses depois de terem atingido altura e peso adulto. Em raças pequenas corresponde geralmente aos 6-10 meses de idade, enquanto raças grandes podem não ciclar até chegarem aos 18- 24 meses. É relatada uma grande variação racial e até mesmo individual quanto a esse aspecto.

Recomenda-se que o primeiro cruzamento seja realizado durante o segundo ou terceiro estro.

2.2 Intervalos entre os ciclos

A maioria das cadelas inicia um novo proestro a cada 7 meses, mas como ocorre alta variação entre raças e provavelmente sofre influências sociais e ambientais, são considerados intervalos normais àqueles que duram de 5 a 10 meses.

Tabela 1. Número de estros por ano em algumas raças
Basenji                                    1,0
Basset Hound                            2,0
Beagle                                     1,5
Boston Terrier                          1,5
Cocker Spaniel                        2,0
Pastor Alemão                         2,4
Perkinje                                               1,5
Poodle Toy                                           1,5

Tabela 2. Intervalo interestro em algumas raças (meses)
Basset Hound                          5,8
Beagle                                     7,4
Boston Terrier                          8,1
Boxer                                                  8,0
Chihauhua                                           7,2
Cocker Spaniel                        6,0
Pastor Alemão                         5,0
Perkinje                                               7,7
Scotish Terrier                         6,5
Poodle Toy                                          8,8

2.3 Fases do ciclo estral

Proestro : É o período em que a atividade folicular é mais alta , precedendo o estro

Estro: Período em que a fêmea aceita o macho para montar e cruzar

Diestro: Associado com a atividade do corpo lúteo, e portanto dominado pela progesterona.

Anestro: É o tempo compreendido entre o fim da fase luteal (diestro) e o início de outra fase folicular (proestro), clinicamente é um período de quietude reprodutiva.

2.4 PROESTRO

Duração: Aceita-se que o início seja correspondente ao aparecimento de sangramento vaginal, ou ainda outros sinais como mudança de comportamento da fêmea, atração de machos e intumescimento vulvar, e termina quando a cadela permite que o macho monte e cruze. A média de duração é de 9 dias, podendo ocorrer variações normais de 1-2 até 25 dias.

Sinais clínicos : A fêmea desencoraja qualquer tentativa de montar do macho, rosnando, fugindo, mostrando os dentes ou até mesmo mordendo. Observa-se também que a cadela costuma manter a cauda fortemente pressionada contra o períneo.

Tipicamente o proestro é associado com descarga vaginal sanguinolenta, mas nem sempre esta ocorre. Esse sangramento é resultante de diapedese de hemáceas e ruptura de capilares subepiteliais, devido às rápidas mudanças que ocorrem no endométrio em resposta à secreção folicular de estrógeno. A facilidade em se detectar esse corrimento depende do comportamento de limpeza de cada animal e mesmo da raça, sendo percebido mais facilmente naquelas que apresentem pêlos e caudas longos.

A vulva aumenta de tamanho com o decorrer do proestro, com edema e inchaço dos lábios vulvares.

Mudanças hormonais: A cadela em proestro está sob influência do estrógeno sintetizado e secretado pelos folículos ovarianos em desenvolvimento. O estrógeno é responsável pelas alterações de comportamento na fêmea, descargas vaginais, atração de machos, preparação uterina para a prenhez, além de outros eventos proestrais.

No proestro a concentração de estrógeno, que estava em níveis de 8 a 15 pg/ml no anestro, se eleva para 25 pg/ml no início do período chegando a picos de 60-70 pg/ml no final. O pico da concentração plasmática de estrógeno ocorre 24- 48 horas precedendo o estro.

Os níveis de progesterona durante o proestro, exceto nas últimas 12- 48 horas, são basais (<0.5ng/ml). O fim do proestro é caracterizado por elevação dos níveis de progesterona, enquanto que os níveis de estrógeno decaem.

A concentração das gonadotrofinas aumentam no início do proestro, depois  os níveis basais são mantidos até que ocorra o próximo pico, associado com o começo do estro.

Anatomia vaginal e uterina : A mucosa vaginal no anestro é relativamente frágil, formada por apenas poucas camadas de células. O aumento dos níveis de estrógeno no proestro causa uma rápida multiplicação do número de camadas de células da mucosa vaginal, que se observada à vaginoscopia apresenta-se mais espessa e pregueada.

A ampliação do número de camadas celulares acaba afastando as células luminais cada vez mais do suprimento sangüíneo, resultando na morte dessas células. Essa nova conformação torna o tecido muito menos sensível e menos frágil, não só pelo aumento das camadas mas também através do desenvolvimento de precursores de queratina nessas células, prevenindo assim traumatismos durante a cópula.

Sob os efeitos do estrógeno e progesterona, a mucosa uterina passa por mudanças semelhantes, o endométrio se prepara para a implantação através de um marcante aumento da espessura da parede uterina e da atividade glandular. Essas mudanças podem estar associadas inicialmente a presença de algum sangramento.

Citologia vaginal:

 

Figura 1. Esfregaço para citologia vaginal

Classificação das células vaginais:

Células parabasais –  São as menores células dentre as células vaginais, redondas ou ligeiramente ovais, apresentam um núcleo grande e relativamente pouca quantidade de citoplasma. Vão sendo descamadas próximas a camada germinativa, perto do suprimento sangüíneo.

 

Figura 2.  Célula parabasal

Células intermediárias – Variam em tamanho podendo ser classificadas em células intermediárias pequenas e grandes. Apresentam bordos irregulares e núcleos geralmente menores que aqueles das parabasais.

 

Figura 3.  Célula intermediária

Células superficiais parcialmente queratinizadas – São as células maiores encontradas na citologia vaginal, achatadas e com as bordas anguladas, se coram pobremente. Os núcleos são pequenos e picnóticos.

 

Figura 4. Célula superficial parcialmente queratinizada

Células superficiais queratinizadas (superficiais totalmente queratinizadas) – São células grandes, mortas e irregulares que representam o fim do processo que inicia-se com as células parabasais. Morreram devido ao espessamento da parede que afastou-as do suprimento sangüíneo. São  grandes com bordas anguladas e achatadas, também já foram chamadas de células queratinizadas ou cornificadas.

 

Figura 5. Célula superficial totalmente queratinizada

Células espumosas – São células parabasais ou intermediárias que contêm vacúolos citoplasmáticos visíveis.

 

Figura 6. Célula espumosa

Células metaéstricas – São geralmente células intermediárias grandes que contêm em seu citoplasma um ou mais neutrófilos.

Proestro inicial: Um esfregaço vaginal de uma cadela em início de proestro apresenta-se com variável número de células sangüíneas, numerosas células parabasais e intermediárias. Neutrófilos são comumente encontrados, mas não abundantemente, e bactérias podem ser visualizadas em pequenas ou grandes quantidades. O fundo do esfregaço é aparentemente sujo , devido à presença de secreções cervicais e vaginais viscosas que se coram facilmente.

Proestro médio: A primeira evidência do efeito da ação contínua do estrógeno na citologia vaginal  é o desaparecimento dos neutrófilos, já que estes agora não mais conseguem atravessar a espessa parede de células. As células parabasais e intermediárias pequenas  vão sendo substituídas por células intermediárias grandes e por superficiais- intermediárias. Eritrócitos podem ou não estar presentes, e o fundo pode continuar sujo ou apresentar-se claro.

Proestro final: O esfregaço já não contém mais neutrófilos, a presença de células sangüíneas é variável, e o fundo é claro. Mais de 80% das células são superficiais com núcleos picnóticos ou anucleadas.

2.5 ESTRO

A fase estral inclui o tempo durante o qual a cadela permite que o macho a monte e  fecunde.

Mudanças hormonais: a concentração de estrógeno alcança um pico 1 ou 2 dias antes do começo do estro. A cadela, geralmente, começará a exibir sinais de cio somente quando a concentração de estrógeno circulante (uma vez elevada) está declinando. O declínio da concentração de estrógeno é um reflexo do final do processo de maturação do folículo, muitos dias antes da ovulação.

Simultaneamente com o declínio dos níveis de estrógeno, as células do folículo ovariano começam a luteinizar-se e secretar progesterona. A combinação do aumento da concentração plasmática de progesterona e do declínio da concentração de estrógeno estimula: a mudança do comportamento da cadela, deixando de ser contrária à cobertura, e sim procurá-la ativamente; e realiza forte “feedback” positivo para hipotálamo e pituitária, resultando numa onda de secreção do hormônio folículo-estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH) no começo dos sinais de cio.

As células luteinizadas, capazes de sintetizar e secretar progesterona, são funcionantes antes do desenvolvimento do corpo lúteo. Estas células causam o início da elevação da concentração de progesterona, associada ao começo dos sinais de cio. Um efeito deste aumento de progesterona é a intensidade e a duração do comportamento estral.

A onda de LH inicia a ovulação dentro de 24 a 48 horas, e depois desta, há a formação do corpo lúteo. Os níveis de progesterona continuam aumentando na circulação durante estes dias; e com o desenvolvimento do corpo lúteo funcional, a concentração de progesterona aumenta ainda mais, por um período de 1 a 3 semanas.

Ovário e útero: o início dos sinais de cio está associado com o final do processo de maturação dos folículos em desenvolvimento. Durante estas horas finais de atividade folicular, a síntese de estrógeno está diminuindo e a de progesterona está aumentando rapidamente. A ovulação, espontânea na cadela, ocorre 24 a 72 horas depois da onda de LH.

Raças pequenas ovulam poucos óvulos (2 a 10), quando comparado às raças grandes, que podem ovular de 5 a 20 óvulos.

O peso do ovário atinge o máximo imediatamente antes da ovulação.

O estágio de desenvolvimento semelhante dos folículos ovulatórios garante que os filhotes de uma mesma ninhada nasçam sem diferenças de idade significantes.

Folículos que não estão maduros o suficiente para ovular após a onda de LH, sofrem atresia, o que é mais uma evidência do sincronismo dos acontecimentos que ocorrem no ovário e assegura que o óvulo não esteja presente para a fecundação por um período maior que 2 a 4 dias.

Os folículos rompidos luteinizam-se rapidamente; o corpo lúteo desenvolvido é capaz de sustentar a síntese e secreção de progesterona por 2 meses ou mais. A cor do corpo lúteo é rosa-salmão vivo durante 10 dias, aproximadamente, após a ovulação; e é facilmente identificado na superfície do ovário.

Durante todo este período, o útero está continuamente se preparando para a implantação. O sangramento da microvasculatura uterina está diminuído ou extinguido, o desenvolvimento glandular com aumento da vascularidade está quase completo. O útero pode tornar-se palpável numa examinação abdominal cautelosa, observando seu tamanho aumentado e espessura.

O número de óvulos presentes no ovário de uma cadela recém nascida está estimado em 700.000. Na puberdade, este número é reduzido para 250.000; aos 5 anos de idade, 30.000; e aos 10 anos, apenas poucas centenas. A fertilidade parece declinar progressivamente, uma vez que a cadela alcança 7 anos de idade ou mais.

Duração: a duração dos sinais de cio é de 5 a 9 dias, normalmente. Semelhante ao proestro, a extensão desta fase pode variar drasticamente entre cadelas normais.

Sinais clínicos: maior receptividade ao macho; podem agachar-se ou elevar o períneo para o macho. Qualquer pressão realizada sobre ou próximo à parte inferior das costas causará o desvio da cauda para um lado e uma tensão dos membros traseiros para suportar o peso do macho durante a monta. A cadela pode atrair machos a uma longa distância, devido à presença de potentes feromônios.

A vulva progride completamente da fase túrgida e torna-se macia e flácida. A secreção vaginal é muitas vezes cor-de-palha ou rósea; e menos freqüente, pode continuar evidentemente hemorrágica. Ocasionalmente a secreção vaginal pode conter glicose suficiente para um teste de urina dar positivo. Isto pode ser causado pelo aumento da concentração de progesterona, a qual resulta em intolerância a carboidratos, pela progesterona estimular o hormônio estimulante do crescimento. O antagonismo da insulina causa o aumento da concentração sangüínea de glicose e uma elevação dos níveis de glicose extracelular. A secreção vaginal do estro é formada a partir do fluido extracelular dentro da parede uterina; então o uso do teste de glicose pode ter algum valor.
A cadela pode ser passiva e aceitar o macho, ou pode aproximar-se do macho ativamente para despertar seu interesse. Geralmente, a cadela só cruza com machos dominantes e repugna os submissos. Por isso, recomenda-se que leve a fêmea para o território do macho, onde este estará mais à vontade e será dominante; e ao mesmo tempo, a fêmea estará submissa e receptiva.

Figura 7. Alterações normais e sequência de eventos relacionados ao momento da ovulação e fertilização do óvulo no indivíduo normal. (Feldman ,EC e Nelson, RW)

Citologia vaginal: mantém-se relativamente constante. Não há mudanças que sugiram o dia do pico de LH, ou da ovulação ou do momento da fertilização. A citologia vaginal esfoliativa parece ser um reflexo da elevação da concentração de estrógeno.

As células superficiais totalmente queratinizadas representam mais do que 80% do total das células vaginais, freqüentemente alcançando 100%. Não há neutrófilos. O fundo do esfregaço está sem material granular, freqüentemente visto no proestro.

Durante todos os dias do final do proestro e todo o período do estro, a porcentagem de células superficiais nunca cai abaixo de 60%, mantendo-se geralmente, entre 80 e 100%. A presença ou ausência de núcleo picnótico dentro destas células superficiais não tem relação coerente com alterações de concentrações plasmáticas de hormônios, ou com a presença de folículos ou corpo lúteo dentro do ovário.

 

2.6 DIESTRO

Diestro é definido como o período compreendido entre a parada do estro até o tempo durante o qual a progesterona é secretada pelo corpo lúteo.

Mudanças hormonais: A concentração de progesterona no plasma eleva-se acima da concentração basal (>0,5ng/ml) 72 a 96 horas antes da ovulação. Depois da ovulação, o desenvolvimento do corpo lúteo ocorre na cavidade folicular, formando uma fonte contínua para manter a concentração plasmática de progesterona elevada. O pico da concentração de progesterona é originado desse corpo lúteo e é geralmente atingido 20 a 30 dias após a ovulação. Esta secreção máxima ocorre aproximadamente 2 a 3 semanas depois do início do diestro. Um platô da concentração de progesterona persiste por 1 a 2 semanas. A concentração de progesterona nesse momento é muito maior que a concentração basal, normalmente chegando a 15 a 60 ng/ml.

Estatisticamente, cadelas prenhes têm concentração de progesterona maior que cadelas não prenhes, começando algumas semanas após o início do diestro. Todas as cadelas não prenhes saudáveis  que tenham passado pelo estro são pseudoprenhes na medida que elas possuem um corpo lúteo funcionante, isto é, o sistema de reconhecimento de prenhez não existe.

Uma vez  que o período de platô  da concentração plasmática de progesterona do diestro tenha passado, segue-se um declínio prolongado na função luteal. A fase luteal  termina abruptamente na cadela prenhe (aproximadamente 65 dias após a fertilização) como parte do início do parto. Contudo a fase luteal declina lentamente na cadela não prenhe, geralmente durando 10 a 20 dias. As prostaglandinas podem ser o fator luteolítico nas cadelas não prenhes e nas prenhes, mas até o momento isso é especulativo.

A concentração de estrógeno no princípio do diestro está normalmente em níveis basais (isto é, semelhante à concentração do anestro). Tem sido mostrado que durante a última semana ou duas últimas de gestação a concentração de estrógeno apresenta um crescimento súbito.Talvez esse discreto acréscimo na síntese e secreção de estrógeno ocorra de acordo com a queda na concentração de progesterona, como uma necessidade endócrina em estimular o relaxamento cervical e outros fatores do parto. Porém essa pequena concentração de estrógeno  não causa atração aos machos nem outras alterações evidentes associadas com  proestro.

A secreção de FSH e LH da pituitária durante o diestro ocorre em episódios não contínuos.

Ovário e Útero: O útero responde a acréscimos na concentração de progesterona originada do ovário para a manutenção da hipertrofia das suas estruturas glandulares e um aumento da vascularidade. Estas são duas das mudanças endometriais observadas na preparação para a gestação. O tamanho máximo do útero é observado 20 a 30 dias sucedidos do início do estro e coincide com a alta concentração de progesterona. O tamanho do útero é também mantido aumentado nas cadelas não prenhes devido aos efeitos da progesterona.

Com a degeneração do corpo lúteo e a parada da secreção de progesterona, o diestro acaba e o útero passa por um período de reparação. Esse período de involução uterina requer 1 a 3 meses na cadela e pode representar um dos fatores que contam para um período de interestros prolongado.

Duração: Diestro é a fase de elevada concentração de progesterona circulante. A duração é em média de 56 a 58 dias nas cadelas prenhes e 60 a 80 dias nas não prenhes. A função do corpo lúteo cessa antes na prenhez do que na não prenhez.

Sinais clínicos: O diestro começa quando uma cadela previamente receptiva abruptamente recusa a aceitar a monta de um macho. Ela pode também não ser mais atrativa para os machos. A vulva retorna ao normal ou ao tamanho anéstrico e não é mais flácida. Basicamente, não há nenhuma diferença clínica quando comparada com uma cadela em anestro (considerando-se uma cadela não prenhe).

Citologia Vaginal: Em um período de 24 a 48 horas do final do estro, a porcentagem  de células superficiais decresce aproximadamente 20%, sendo o restante das células normalmente intermediárias. Isso representa uma mudança abrupta na citologia vaginal. Ocasionalmente, pode ser visto  um grande número de células, precedendo o diestro. Neutrófilos podem aparecer e o fundo pode conter debris. Contudo a mudança drástica na aparência microscópica  das células epiteliais vaginais é a primeira indicação de que o diestro tenha começado.

Podem ser observadas células metaéstricas específicas associadas com o diestro. Essas células têm sido usadas como um auxílio para distinguir o início do proestro  do começo do diestro. As células metaéstricas e as células espumosas são supostamente observadas apenas no diestro. As células metaéstricas são células epiteliais vaginais que contêm 1 a 2 neutrófilos em seu citoplasma. Células espumosas são células epiteliais vaginais com citoplasma bolhoso. Quando houver dúvida, uma série de esfregaços obtidos a cada 2 a 3 dias deve ajudar a identificar o estágio correto do ciclo.

Seguindo os poucos dias iniciais do diestro, o esfregaço vaginal dessa fase parece com o do anestro. Glóbulos brancos podem estar presentes em pequeno número, glóbulos vermelhos estão ausentes ou em pequeno número, e as células epiteliais tipicamente consistem em pequenas células intermediárias mais células parabasais. Em estudos de pacientes inférteis, e na tentativa de identificar o dia do parto, reconhecer o primeiro dia do diestro é muito importante.

2.7 ANESTRO

Anestro é a fase do ciclo reprodutivo feminino que segue o diestro, durante o qual o útero involui. O anestro começa com o parto e termina no proestro. O início do anestro não é prontamente discernível em cadelas não prenhes, nas quais não há uma demarcação evidente entre o diestro e o anestro clinicamente detectável. Assim, o trato reprodutivo durante o anestro  está se preparando para o início do outro ciclo, que começa com  a proximidade do proestro. Essa fase também é referida como o período quiescente  do eixo pituitário-ovariano.

Duração: Como as outras fases do ciclo o anestro varia em duração. Essa variação depende da raça, da saúde, da idade, do período do ano, do ambiente e outros múltiplos fatores. Em uma cadela que inicia o proestro a cada 7 meses, proestro dura 9 dias, estro 7 a 9 dias, diestro 58 dias, e anestro 4,5 meses. Contudo, isso pode ser variável, porque é difícil saber quando o diestro acaba e o anestro começa em uma cadela não prenhe.

Sinais Clínicos: Não há nenhuma diferença clínica evidente quando se compara a cadela anéstrica com a cadela castrada.

Concentração hormonal: Nesta fase a pituitária e o ovário são hormonalmente ativos. Esporádicas elevações na secreção de LH ocorrem durante o anestro nas cadelas. Estes transitórios aumentos de LH no plasma parecem  resultar em dois breves, mas potentes episódios secretórios. Um pico de LH precede imediatamente o início do proestro, e um precede ou coincide com o início do estro e subseqüente ovulação. Os  baixos pulsos repetitivos que ocorrem durante o anestro podem preparar um significativo número de folículos para o desenvolvimento e iniciar o processo de maturação assim como a ovulação.

FSH não tem essa flutuação notada na concentração periférica de LH. Esse hormônio parece ter variações moderadas na concentração durante o anestro antes do declínio com o início do proestro e crescendo com o pico de LH na onda pré-ovulatória.

A concentração de estrógeno flutua significativamente durante o anestro. Precedendo o  começo do proestro há um declínio da concentração de estrógeno. Ao contrário, a progesterona se mantém em extremamente baixa concentração durante o anestro. O desenvolvimento das ondas foliculares menores é provavelmente estimulado por pequenas elevações do FSH pituitário. Esses folículos sintetizam e secretam estrógeno, causando acréscimos mínimos na concentração de estrógeno circulante. Devido a esses folículos nunca ficarem totalmente maduros, eles regridem, depois  de um curto período funcionante.

Os níveis de progesterona encontram-se menores que 1.0 ng/ml. (Wright, PJ, 1990)

Não é conhecido o que causa  o início do proestro e o começo do novo ciclo. Isso provavelmente é resultado de interações complexas entre ambiente, saúde geral, estado ovariano e uterino, idade e outros fatores não identificados que ditam o papel para o FSH e LH.

Citologia Vaginal: Primeiramente são observadas células parabasais e pequenas células intermediárias. Neutrófilos podem ou não estar presente, e glóbulos vermelhos estão normalmente ausentes. Bactérias podem ou não estar presentes e  quando presentes geralmente representam a microflora normal.

Figura 8.  Mudanças citológicas das células do epitélio vaginal (Nelson, RW e Couto,CG, 1994)

Página: 1, 2, 3

3. INFERTILIDADE
(Nelson, RW e Couto, CG, 1992)

É definida como redução temporária da habilidade de conceber e produzir um número normal de descendentes viáveis. As causas podem ser infecciosas ou não infecciosas. O manejo reprodutivo inadequado é considerado uma das maiores causas de baixa performance reprodutiva.

O animal infértil normalmente apresenta histórico de falha reprodutiva. Alguns sinais podem aparecer, incluindo:

Falha em ficar prenhe ou parir após um cruzamento.
Recusa a cruzar quando apresentada ao macho.

Falha em demonstrar estro aos 24 meses ou anestro prolongado (>10 meses) em cadelas adultas.

Comportamento cíclico anormal em uma cadela pós-púbere, incluindo estro prolongado, split heats, intervalo interestro diminuído e falta de estro.

Aumento palpável do útero em cadela não prenhe.

Aborto com ou sem descarga vulvar

Anomalias físicas envolvendo genitália externa, como aumento do clitóris ou presença de desenvolvimento anormal.

Descarga vulvar anormal ou persistente ou presença de massa protuberante dos lábios vulvares.
Tamanho reduzido da ninhada e redução da taxa de concepção.

Tabela 3. Causas de infertilidade em cadelas

CICLOS ANORMAIS CICLOS NORMAIS
Anestro primário

Pré puberal

Ovariohisterectomia

Hipoplasia / Aplasia ovariana

Andrógenos / Progestágenos

Neoplasias ovarianas

Síndrome de Cushing

Hipotireoidismo

Anestro secundário

Senilidade ovariana

Andrógenos/ Progestágenos

Neoplasias ovarianas

Síndrome de Cushing

Hipotireoidismo

Proestro / Estro prolongado

Doença ovariana cística

Neoplasias ovarianas

Administração de estrógeno

Intervalos interestros diminuídos

Administração de gonadotrofinas ou estrógenos

Desconhecida

Split heats

Dor resultante da monta

Intimidação durante início do estro

Atresia idiopática dos folículos

Cio silencioso

Níveis hormonais inadequados

Baixa resposta hormonal

Cadelas criads afastadas de cães

Estro diminuído

Senilidade

Desconhecida

Ninfomania

Intervalos interestros aumentados

Hipotireoidismo

Administração de glucocorticóides

Senilidade

Recusa cruzamento

Prolapso / Hipoplasia vaginal

Fatores psicológicos / Territoriais

Alterações musculoesqueléticas

Lesões oclusivas

Aplasia / Hipoplasia segmentar

Inflamação

Neoplasias

Hiperplasia endometrial cística

Neoplasias do trato reprodutivo

Infecções

Brucella canis

Mycoplasma

Ureaplasma

Herpesvírus canino

Miscelânea de bactérias

Imunológicas

Anticorpos anti-esperma

Aborto

Brucelose

Infecção por herpesvírus

Toxoplasmose

Mycoplasma/Ureaplasma

Infecção por parvovírus

Outras infecções bacterianas

Hipoluteoidismo

Falha em ovular

Falha na função luteal

Senilidade

Manejo reprodutivo imprópio

A infertilidade em animais que apresentem ciclos estrais normais não será discutida. Enfocaremos com mais detalhes aquela relacionada com ciclos anormais.

Algumas anormalidades que causam alterações em ciclo estral nas cadelas:

3.1 Cistos ovarianos ( Ettinger, SJ, 1992)

Caracterizados por estruturas repletas de líquido, podem ser normais ou anormais e estar dentro ou ao redor do ovário.

Normais : incluem as vesículas foliculares e as cavidades centrais dos corpos lúteos em desenvolvimento.

Anormais: foliculares ou luteinizados, podem sintetizar e secretar quantidades variadas de esteróides sexuais.

Sinais clínicos:

Estro persistente
Pode ser causado por secreção contínua de estrógeno dos cistos foliculares.

Anestro persistente
Quando associado a cistos foliculares não funcionais, é provavelmente resultado do efeito da massa do cisto, causando decréscimo da função do tecido ovariano. Já cistos luteinizados prolongam o anestro por secretarem progesterona.

3.2 Neoplasias ovarianas (Ettinger, SJ, 1992)

Tumores ovarianos são incomuns na cadela e podem ser classificados de acordo com a origem embriológica. Os mais comuns são aqueles derivados de células epiteliais e de células da granulosa.
Assim como os cistos ovarianos, as neoplasias ovarianas também podem ser produtoras de hormônios, causando alterações na ciclicidade das fêmeas acometidas.

3.3 Intersexo (Birchard, SJ e Sherding, RG, 1994)

É caracterizado como um animal apresentando órgãos genitais e algumas características de ambos os sexos. Esse termo entretanto é utilizado para descrever animais com anormalidades cromossômicas, gonadais, ou do sexo fenotípico.

Fatores conhecidos que induzem condições de intersexo:

Defeitos hereditários incluindo: XX inversão do sexo, XX hermafroditismo verdadeiro, síndrome dos ductos de Müller persistentes e defeito na síntese ou ação dos esteróides.

Anormalidades cromossômicas: São causadas por erros na replicação cromossômica, fertilização e/ou divisão embrionária. Estão incluídas: 78,XX; 78,XY; 77,X0; 79,XXX; 79,XXY.

Exposição fetal a andrógenos ou progestágenos: resulta em masculinização das fêmeas, incluindo aumento do clitóris e desenvolvimento de prepúcio e escroto rudimentar.

A infertilidade em animais com fenótipo feminino é caracterizada por ciclicidade irregular, falha na concepção, tamanho diminuído da ninhada, abortos ou falha completa da ciclicidade.

3.4 Hiperadrenocorticotismo (Síndrome de Cushing) (Ettinger,SJ, 1992)

Os sinais clínicos e anormalidades bioquímicas característicos resultam do efeito da exposição excessiva aos glucocorticóides.

A infertilidade em fêmeas portadoras dessa síndrome está relacionada às baixas concentrações de FSH e LH, causadas pelo feedback negativo das altas concentrações circulantes de cortisol.

3.5 Hipotireoidismo (Ettinger,SJ, 1992)

Em cães é uma desordem multisistêmica, onde os sinais clínicos refletem efeitos generalizados da diminuição das funções metabólicas causadas pela deficiência de hormônio tireoidiano.

No sistema reprodutivo (fêmeas), podem der observados:

anestro

infertilidade

abortos

galactorréia inapropriada

 

4. INFERTILIDADE EM CADELAS COM CICLOS ANORMAIS

(Birchard, SJ e Sherding, RG, 1994)

A infertilidade ou subfertilidade em cadelas com alterações no ciclo estral nem sempre decorre da alteração em si, e sim freqüentemente por cruzamentos realizados em momentos inadequados.

4.1 Anestro persistente

Os animais que se encontram em anestro persistente podem ser divididos em duas subcategorias: aqueles que nunca tenham ciclado (anestro primário) e aqueles em que tenha ocorrido um ou mais ciclos prévios, mas que não estejam mais ciclando (anestro secundário). (Jonhston,SD et al, 1994)

4.1a  Anestro primário (Puberdade tardia)

Causas: (Nelson, RW e Couto, CG)

variabilidade normal

estro não detectado

maturidade atrasada (genético ou nutricional)

Intersexo (desordens cromossomais, uso de andrógenos)

Iatrogênico (administração de andrógenos ou progestágenos)

desordens relacionadas ao eixo HPO (por exemplo neoplasias, insultos traumáticos)

defeitos endócrinos (hipotireoidismo, diabetes mellitus ou desordens da adrenal)

DIAGNÓSTICO

Histórico

*determinar método e freqüência de detecção de estro, eliminar possibilidade de ter ciclado despercebidamente.

*descartar ovariohisterectomia prévia.

*animais com menos de 24 meses podem ser pré-púberes.

*descartar possibilidade de tratamento anterior com progestágenos e andrógenos, que poderiam suprimir sinais de ciclicidade, durante o tratamento ou por algum tempo após este.

*cadelas idosas podem ter ciclado muitas vezes e deixado de ciclar.

Exame físico

*avaliação física geral para determinar se o estado de saúde é compatível com a ciclicidade (condição corporal adequada) para sinais de estro e proestro.

*exame para doenças sistêmicas que possam interferir na ciclicidade.

*exame para evidenciar intersexo.

*exame para evidenciar disfunções endócrinas, como hiperadrenocorticotismo, hipotireoidismo, nanismo hipofisário.

*Avaliação laboratorial

*Realizar contagem completa sangüínea, urinálise e perfil bioquímico, se indicado.

*Citologia vaginal para obter informação do estágio do ciclo estral, e se o ciclo é normal ou não e a presença de metrite, piometra, cervicite ou vaginite.

*Pesquisa de B. canis

*Mensuração basal dos níveis de T3 e T4 , e de FSH (teste de estimulação da tireóide com TSH)

*Teste endócrino:

– análise de progesterona sérica a cada 1-2 semanas. Concentração maior que 2ng/ml é sugestiva de corpo lúteo funcional

– concentração de LH maior que 30ng/ml em três amostras consecutivas, com intervalos de 20 minutos, sugere ovariectomia ou hipoplasia/aplasia ovariana

*Cariotipagem, recomendada em animais:

– com evidência de genitália externa anormal

– com histórico de nunca terem ciclado

– acima de 18 meses de idade sem evidência de ciclicidade, após 6 meses de esfregaços vaginais semanais

*Ultra-sonografia do trato reprodutivo: fornece informações da presença ou ausência de aumento uterino, e/ou acúmulo de fluidos e alguma anormalidade, como massas ovarianas

*Laparoscopia / Laparotomia: considerar como um método de avaliação do trato reprodutivo

*TRATAMENTO

*Animais com cariótipo anormal: recomenda-se castração

*Animais com cariótipo normal que não ciclaram até os 30 meses, são candidatos para indução do estro. Alguns protocolos para indução do estro:

– administrar FSH 1-2mg, pela via subcutânea ou intramuscular, nos dias 1, 3, 6 e 9, realizando citologias vaginais em cada um desses dias. Quando a citologia revelar 80% de células superficiais, cruzar a cadela e administrar hCG 500-1000UI, pela via intramuscular ou intravenosa

– administrar FSH 2mg/dia por 5-10 dias, seguido de hCG como acima

– administrar FSH 25mg semanalmente, num total de 5 doses. Quando a cadela entrar em proestro, descontinuar FSH e realizar citologia vaginal. Administrar hCG como acima e cruzar

– se a cadela demonstrar sinais de proestro e retornar a anestro, fornecer 25mg, 10mg e 5mg de FSH em dias sucessivos, seguindo de cruzamento e hCG

*Neoplasias: remoção cirúrgica dos tumores ovarianos

*Desordens endocrinológicas: esquemas de tratamento para hiperadrenocorticotismo, nanismo hipofisário, hipotireoidismo, e hipertireoidismo

4.1b Anestro secundário

O anestro secundário pode ocorrer em qualquer época após a puberdade e pode ser presenciado em situações onde:

*O eixo hipotálamo – hipófise – ovários (HPO) esteja sendo suprimido, como no hipotireoidismo, terapia exógena com glucocorticóides, ou doença metabólica simultânea, stress, má nutrição.

*Exista uma anormalidade primária no eixo HPO, como disgenesia ovariana (cadelas com essa patologia apresentam aumento crônico os níveis plasmáticos de LH), condições de intersexo, cistos ovarianos, neoplasias ovarianas ou ainda ovariohisterectomia prévia.

Deve-se ainda considerar novamente a possibilidade da cadela ter ciclado sem que o proprietário percebesse.

DIAGNÓSTICO

Histórico:

*senilidade (maior de 6-8 anos) pode estar associada com redução da fertilidade e ciclicidade irregular

*algumas raças com híbrido de lobo e basenjis podem ciclar apenas uma vez por ano

*avaliar a acurácia das observações para sinais de estro

*analisar evidências de stress severo como doença, má nutrição, debilidade, e também temperatura externa, que podem suprimir sinais de proestro/estro ou prolongar anestro

*descartar a possibilidade de tratamento com progestágenos ou andrógenos

*Exame Físico:

*realizar exame físico geral para avaliar doenças sistêmicas

*examinar evidência clínica de disfunção endócrina como hipotireoidismo, hiperadrenocorticotismo

*Avaliação Laboratorial:

*citologias vaginais semanais

*pesquisa de B. canis

*mensuração das concentrações basais de T3 e T4 e/ou teste de estimulação com TSH

*realizar o teste endócrino (idem falha no ciclo)

*contagem completa sangüínea, perfil bioquímico, urinálise, se indicado

*cariotipagem em animais acima de 18 meses que falharam em ciclar após 6 meses de exposição a outras fêmeas ciclantes e machos

*Ultra-sonografia: fornece informações sobre o tamanho do ovário

*Laparoscopia/Laparotomia: devem ser consideradas para avaliar o trato reprodutivo

TRATAMENTO

*Colocar a cadela com outras fêmeas ciclantes e a expor regularmente ao macho

*Indução de estro como descrito para o tratamento de falha em ciclar

* Remoção cirúrgica de neoplasias ovarianas

* Não existe tratamento para o declínio de fertilidade visto em cadelas idosas

4.2 Proestro/Estro persistente

O período proestro + estro não é considerado anormal em cadelas até ultrapassar 35-40 dias, e pode ser caracterizado por uma cadela apresentando sangramento vaginal por mais de 20 dias (proestro prolongado) ou aceitando o macho por mais de 20 dias (estro prolongado) (Drazner, FH, 1987). Há um atraso do desenvolvimento folicular mas a ovulação subseqüente ocorre.

A persistência do proestro/estro pode acontecer em conseqüência de: (Hosken, RF, 1994)

*cistos ovarianos foliculares funcionais

*administração exógena de estrógeno

*neoplasias ovarianas produtoras de estrógeno

DIAGNÓSTICO

*Histórico:

*descartar a possibilidade de tratamento com produtos estrogênicos

Exame Físico:

*avaliação física geral

*exame da genitália externa, procurando por evidências de influência estrogênica (vulva aumentada, edemaciada e descarga vulvar) e massas abdominais como tumores ovarianos

Avaliação Laboratorial:

*citologia vaginal pode demonstrar presença de influência estrogênica, determinada pelo grau de cornificação e presença ou ausência de glóbulos brancos, vermelhos e debris do fundo do esfregaço

*proestro persistente : 50 a 90 % células superficiais totalmente queratinizadas

*estro persistente : 90% ou mais de células superficiais totalmente queratinizadas

*teste endocrinológico: concentrações de estrógeno maiores que 15pg/ml são sugestivas de proestro ou estro, contudo níveis estrogênicos normais não descartam a possibilidade de estro persistente.

*Ultra-sonografia do trato reprodutivo pode descartar ovários aumentados e estruturas foliculares nos ovários

*Radiografias do abdômen podem fornecer informações sobre presença de ovários aumentados e massas ovarianas

TRATAMENTO

*Induzir ovulação ou tecido luteal com hCG (500-1000UI, pela via intravenosa ou intramuscular) ou GnRh (50-100µg, pela via intravenosa ou intramuscular). Checar os animais utilizando Ultra-som, citologia vaginal e análise de progesterona sérica antes do tratamento e 14 dias após o tratamento para monitorar a resposta

*Administrar terapia andrógena por 3 a 4 meses e depois cruzar no estro subseqüente

*Recomenda-se ovariohisterectomia para cadelas que não haja intenção de cruzamento

*Remoção cirúrgica dos ovários neoplásicos

4.3 Ninfomania (Derivaux, J.)

*Síndrome neuroendócrina que é traduzida do ponto de vista clínico, por um prolongamento do cio além dos limites normais, podendo transformar-se em permanente por exagero do impulso sexual

*Geralmente este distúrbio está associado com degeneração cística do ovário, sendo mais raramente reflexo de tumores da granulosa

*Etiologia: múltipla e variada, freqüentemente condicionada a uma predisposição hereditária

*Depende essencialmente de uma síndrome hipotálamo-hipofise-ovário e os sintomas observados apontam a favor de um desequilíbrio FSH-LH no sentido de uma ação predominante de FSH

*Não ocorre ovulação e formação de corpo lúteo e, de outra parte, o folículo continua crescendo sob o efeito de um relativo excesso de FSH

LESÕES

*tanto um como ambos os ovários podem apresentar folículos relativamente grandes

*é possível também a ocorrência de grande número de cistos de pequenas dimensões, alguns destes cistos são recobertos interiormente por fina camada de tecido luteínico, porém a maioria possui parede delgada, semitransparente, contendo líquido claro

*por vezes, no ovário permanece muito pouca quantidade de tecido são

*as células da granulosa estão ausentes ou degeneradas, e as da teca interna sofrem a mesma alteração ou apresentam fenômenos de hialinização ou de infiltração serosa

*o miométrio torna-se espesso e edemaciado, a mucosa uterina irregularmente hiperplásica, as glândulas uterinas císticas e a submucosa aparece infiltrada de linfócitos e de células plasmáticas

SINTOMATOLOGIA

*estado de hiperfoliculenemia

*distúrbios psíquicos

* indícios físicos

*modificações do ciclo estral

DIAGNÓSTICO

*Diferenciar dos cios prolongados com ovulação retardada e do virilismo

TRATAMENTO

*Com gonadotrofina coriônica, ou com progestágeno, especialmente a medroxiprogesterona; os resultados são irregulares

*Em caso de fracasso do tratamento médico, pode-se recorrer à castração; assim se consegue o retorno à quietude sexual

4.4 Intervalos interestros diminuídos

Intervalos com menos de 4 meses são freqüentemente observados em cadelas. Muitas são inférteis provavelmente por falha na implantação do embrião, já que o endométrio ainda não está recuperado do ciclo anterior, um processo que normalmente necessita de 120-150 dias. (Nelson, RW e Couto, CG, 1992)

A administração de gonadotrofinas ou estrógenos pode diminuir o intervalo interestro, mas para a maioria das cadelas a causa é desconhecida, suspeita-se que essa patologia seja originada por concentrações insuficientes de progesterona, havendo falha na ovulação ou luteinização. Devem ser diferenciados de split heats. (Drazner, FH)

DIAGNÓSTICO

Histórico:

*determinar métodos e freqüência de detecção de estro, eliminar a possibilidade de ter ciclado despercebidamente

*assegurar que o intervalo interestro seja menor que 4 meses

*descartar possibilidade de tratamento com compostos hormonais como estrógenos

Exame Físico:

*avaliação física geral

*observar o comportamento da fêmea frente ao macho intacto

Avaliação Laboratorial:

*realizar citologia vaginal para confirmar que a cadela está em estro

*considere teste endócrino, incluindo concentração de estrógeno e progesterona

TRATAMENTO

*Induzir a ovulação (ver anestro persistente), quando é comprovado pela citologia e análise de progesterona que o animal está em estro; seguindo de cruzamento

*Administrar terapia andrógena (mibolerone-30µg/lb 1x ao dia, via oral- no máximo 180µg)  por 3 a 4 meses e então cruzar no estro subseqüente; esse tratamento não é recomendado em cadelas menores de 3 anos, porque estas apresentam irregularidade no ciclo estral

*Ovariohisterectomia é recomendada para animais que não haja intenção de cruzar

4.5 Split heats

Uma cadela que apresente split heats demonstra sinais de proestro, como sangramento vaginal , intumescimento de vulva, e atrai machos, entretanto não mantém o cio entrando em aparente diestro seguido por novo proestro 2-10 semanas depois. Isso pode repetir-se por muitas vezes.(Feldman,EC e Nelson, RW )

Acredita-se que cada proestro esteja acompanhado de desenvolvimento folicular e secreção de estrógeno, contudo a ovulação não ocorre e os folículos tornam-se atrésicos. Então, um novo grupo de folículos se desenvolve, aumentam os níveis de estrógeno, expondo novamente a cadela aos sinais de proestro. ( Perkins,NR e Thomas, PGA, 1993)

Podem ser confundidos com proestro e estro persistentes ou com intervalos interestros diminuídos.

A causa ainda é discutida mas acredita-se que pode ser devido à dor resultante da monta, intimidação durante o início do estro ou atresia idiopática dos folículos. ( Nelson, RW e Couto, CG, 1992)

É freqüentemente observado em cadelas jovens, que posteriormente apresentam ciclos normais.( Perkins, NR e Thomas, PGA, 1993). Raramente ocorre repetidamente em uma mesma cadela. ( Nelson, RW e Couto, CG, 1992)

Normalmente é uma anormalidade temporária e não requer tratamento. (Nelson, RW e Couto, CG, 1992)

4.6 Intervalos interestros aumentados (Nelson, RW e Couto, CG, 1992)

Intervalos interestros maiores que 9 meses são considerados anormais em cadelas. ( Feldman, EC e Nelson, RW, 1987). Deve-se consirerar, entretanto, a variação racial.

Causas:
Normalmente são as mesmas presenciadas para anestro persistente, em especial o hipotireoidismo e a administração de glucocorticóides.

Pode ocorrer também em cadelas mais velhas.

DIAGNÓSTICO

Histórico:

*rever as técnicas de detecção de estro

*terapias anteriores, medicações

Exame Físico:

*estado geral e metabólico do animal

Avaliação laboratorial:

*Contagem sanguínea

*Painel bioquímico

*Urinálise

*Função tireóide

TRATAMENTO

Em cadelas sem nenhuma patologia primária que esteja causando o prolongamento dos intervalos pode-se induzir o estro com FSH e LH ou hCG. (Ettinger, SJ, 1992)

4.7 Cio silencioso

É um termo utilizado para descrever uma condição onde as cadelas apresentam ciclos que endocrinologicamente são normais, porém falham em exibir qualquer manifestação externa de cio.

Podem ser confundidos com anestro persistente, mas nesse caso o estro está ocorrendo, só que despercebidamente.

Em alguns casos essa falha em demonstrar cio têm sido relacionada a níveis inadequados de 17ß-estradiol, LH e progesterona ou uma resposta pobre a esses hormônios. Essa condição também tem sido reportada em cadelas criadas afastadas desde cedo de outros cães, causando uma lacuna de estimulação psicológica. (Drazner, FH, 1987)

Alguns autores consideram que cio silencioso seja qualquer situação onde o ciclo esteja ocorrendo sem ser detectado seja porque a cadela seja porque a cadela não apresente alguma secreção vulvar ou seja porque a cadela tem um comportamento de higiene muito acentuado e não permita que a secreção seja percebida. (Freshman, JL , 1991)

DIAGNÓSTICO

Avaliação Laboratorial:

*realizar a mensuração da progesterona sérica: (Nelson,RW e Couto, CG, 1992)

*1.O – 1.9 ng/ml indica ovulação em 3 dias

*2.0 – 2.9 ng/ml indica ovulação em dois dias

*3.0 – 3.9 ng/ml em um dia

*4.0 – 8.0 ng/ml ovulação naquele dia

*> 2 ng/ml pode indicar cio silencioso

*Citologia vaginal para confirmar o estro.

TRATAMENTO

O tratamento não é necessário, mas fêmeas afetadas provavelmente não aceitem o macho, portanto se houver interesse em cruzamento deve -se realizar inseminação artificial, monitorada pela citologia vaginal ou análises hormonais, (Nelson, RW e Couto, CG) considerando que o melhor dia para o cruzamento ou inseminação para tamanho máximo de ninhada é dois dias após ovulação ( Kustriz, R, 1999)

4.8 Estro diminuído (Nelson, RW e Couto, CG, 1992)

Normalmente estro com menos de 3 dias de duração é decorrente de erros na observação ou reconhecimento do estro.
Pode realmente estar ocorrendo em cadelas com mais de 6-8 anos, e em alguns indivíduos pode ser considerado normal.
Não traz conseqüências significantes, apenas deve-se detectar o proestro/estro com auxílio de outros métodos para poder realizar o cruzamento com sucesso no tempo apropriado.

Página: 1, 2, 3

5. CASOS NA LITERATURA

5.1 Proestro prolongado em cadelas com X monossomia cromossômica (77,X0)

(Löfstead, RM et al, 1992)

Uma cadela de 9 meses de idade da raça Esquimó americano miniatura com  proestro persistente tinha o seguinte histórico: aos 7,5 meses de idade a cadela começou a apresentar edema vulvar com descarga proestral. Depois de 42 e 50 dias, a cadela foi tratada com 500 UI de gonadotrofina coriônica humana em cada dia para induzir ovulação, presumindo que ela tivesse cisto ovariano. O tratamento não foi efetivo, 59 dias depois do início do proestro, a vulva continuava inchada e a citologia vaginal era consistente com o proestro. Nesse momento, a concentração de progesterona sérica era 0,1 ng/ml e a concentração de estrógeno sérico total era 241pg/ml. A concentração estrogênica era compatível com proestro e a baixa concentração de progesterona evidenciava que a cadela não tinha ovulado ainda. Durante o período do proestro prolongado, mas especialmente no seu início, a cadela era atrativa para os machos.

Esses machos freqüentemente tentavam montar nela, porém a cadela deitava passivamente e não permitia a monta.

Dois meses após o início do proestro, a cadela recebeu outras duas injeções de gonadotrofina coriônica humana (cada 150UI, IM) ,sendo que entre as injeções houve um intervalo de 5 dias. Após duas semanas o esfregaço vaginal indicou que a condição dela não havia mudado. Ela foi então tratada com 1mg de FSH IM 12/12horas por 5 dias seguido de 10µg de GnRH IM no sexto dia. Isto foi feito porque o FSH tinha sido relatado como indutor de sítios de receptor para LH nas células granulosas do folículo ovariano. Contudo, análises do esfregaço vaginal feitas 3 e 18 dias depois (3 a 3,5 meses após o início do proestro) indicaram que esse tratamento também tinha falhado na indução da ovulação. Nesse momento, a concentração total de tiroxina sérica era normal. O teste de estimulação com hormônio estimulador da tireóide não foi feito.

Após 4,5 meses de sinais contínuos de proestro, consistindo em atração pelos machos, edema vulvar, descarga vulvar hemorrágica intermitente, e a citologia vaginal indicava normalmente mais de 80% de células superficiais. Um exame físico não revelou anormalidades exceto pela pelagem escassa.

De acordo com o proprietário, a cadela era pequena para a idade dela. Às seis semanas ela pesava 1,6 Kg, considerando que a média do peso de suas 5 irmãs era 2,7Kg. Na opinião do proprietário, a aparência facial da cadela era incomum, porque suas orelhas eram inseridas baixas na cabeça dela e eram muito afastadas e por isso apontavam para fora ao invés de para cima.

A vagina da cadela foi examinada usando um endoscópio flexível 9mm e esta foi encontrada sendo grosseiramente normal. A cérvix não pôde ser visualizada, mas isso é comum durante o proestro, especialmente quando um endoscópio com 9mm de diâmetro é usado numa cadela desse tamanho. Por base do comprimento do vestíbulo e da vagina dela (19cm), foi sugerido que não havia aplasia segmentar desta parte do trato reprodutivo. Nesse momento, a vulva da cadela estava aumentada e sua citologia vaginal era consistente com proestro atrasado. Devido à história incomum da cadela, a análise do cariótipo foi feita pelo sangue dela e o diagnóstico de 77,XO foi retornado.

Depois de 7,5 meses de proestro contínuo ela foi ovariohisterectomizada e o cariótipo do sangue e da pele foram examinados. Em 30 esfregaços de linfócitos e 30 esfregaços de fibroblasto da pele todas as células tinham cromossomo 77,XO. Além disso, em 500 neutrófilos examinados “drumsticks” não foram encontrados. Cadelas normais devem ter cariótipos 78,XX com aproximadamente 4% de “drumsticks”.

Um dia antes da ovariohisterectomia, essa cadela continuava com vulva inchada e a citologia vaginal era condizente com proestro. Uma baixa concentração de progesterona sérica (0,2 ng/ml) naquele dia indicou que ela não tinha ovulado. A concentração de testosterona sérica foi mensurada porque esta tinha sido encontrada baixa em outra cadela com XO monossomia, mas nessa cadela ela era normal com 0,04ng/ml. Com 1 semana após a ovariohisterectomia, a descarga hemorrágica cessou e o edema vulvar regrediu.

Os ovários eram aproximadamente 8x6x6 mm e  no exame histológico não havia evidência de nenhum desenvolvimento folicular. Isso foi inesperado devido à persistência da aparência proestral e seu rápido desaparecimento depois da ovariohisterectomia. O epitélio germinal pareceu estar em um  estado de degeneração. Não havia corpo lúteo ou corpo albicans. Contudo havia esferas ou cordões epiteliais observadas com grande abundância. Nas esferas mais largas havia células com nucléolo proeminente que tinham citoplasma vacuolizado. Estas eram parecidas com células em um corpo lúteo ativo e foi concluído que elas podem ter sido ativadas esteroidogenicamente.

Uma população grande de células parecidas com linfócitos também estava presente nessas esferas epiteliais o que sugeriu que uma resposta imune pode ter sido envolvida na degeneração do ovário.

As tubas uterinas pareceram estar bem desenvolvidas e eram revestidas por epitélio ciliado proeminente. O útero era grosseiramente normal, mas havia uma condição cística das glândulas uterinas. Isso era inesperado porque era conhecido que não havia estrutura luteal nos ovários e o útero não tinha sido exposto a altas concentrações prolongadas de progesterona. Isso indicou que o estrógeno pode ser importante na patogênese da hiperplasia cística endometrial, apesar do estrógeno sozinho ter mostrado ser incapaz de induzir cistos glandulares. Havia uma indicação de que essa cadela pode ter tido um estado de piometra anteriormente porque havia um acúmulo de granulócitos em uma parte do lúmem uterino.

Esse caso foi incomum por diversas razões. Primeiro 77,XO é raro em cães, pelo o que se sabe esse é o segundo caso relatado. Essa cadela no estado de proestro persistente não apresentou: hipertrofia clitorial, alta concentração sérica de testosterona, baixa concentração sérica de estradiol, aplasia na parte cranial de um corno uterino; no entanto ela apresentou: disgenesia gonadal, deformação facial e tamanho do corpo pequeno.

Dois anos após ter sido ovariohisterectomizada, foi encontrada sua concentração basal sérica de LH entre 10,4 e 13,7 ng/ml e sua concentração de FSH entre 1,005 e 2,004 pg/ml. Quando foi injetado 100µg de GnRH  IM na cadela , sua concentração sérica de LH aumentou 5 vezes acima  do valor padrão.

5.2 Indução do estro em cadelas com anestro normal e persistente usando gonadotrofina menopausal humana (hmg)
(Wanke, MM et al , 1997)

Resumo: A hMG foi administrada IM em 10 cadelas durante um anestro aparentemente normal (n=7) ou anestro persistente (n=3). Cada cão recebeu uma  dose de 75UI de hMG (75UI LH, 75UI FSH; 1- 7 unidades/Kg) diariamente por 9 dias. Nove cadelas responderam com sinais óbvios de proestro entre 3 e 9 dias; entre elas, 3 tiveram um proestro fraco, 2 apresentaram estro normal e ovulação, mas falharam na concepção e 4 ficaram prenhes no ciclo induzido e geraram ninhadas normais após 72 a 85 dias do começo do tratamento (incluindo a cadela tratada em 24 meses depois do último estro). Em 2 casos, o tratamento resultou em ovulação seguida  de 25 ou 34 meses de anestro puberal crônico, sendo que uma delas ficou prenhe. Os resultados sugerem que hMG pode ser uma útil preparação gonadotrófica para indução de estro em cães.

Introdução: As cadelas são animais monoéstricos, sendo que o anestro varia de 2 a 10 meses seguido de 2 meses de fase luteal de ciclo de prenhez ou não-prenhez. O intervalo interestro normal é entre 5 a 12 meses.

As razões clínicas para a indução de estro são: cadelas com anestro persistente e cadelas puberdade tardia.

Muitos protocolos de indução de estro com gonadotrofinas, pulsos de GnRH, injeção ou infusão de agonista de GnRH e agonista dopaminérgico têm sido relatados na indução do estro em anestros de cadelas. Em alguns casos os resultados não são satisfatórios para o uso clínico, enquanto que em outros casos a preparação de hormônio requerida não é permitida para uso veterinário em muitos países.

Material e Métodos:Foram utilizados 10 animais saudáveis em anestro de várias raças com peso entre 11 a 70 Kg. O dia do anestro foi determinado usando a história contada pelos proprietários. O anestro foi confirmado em cada cadela baseando-se no nível sérico de progesterona <1ng/ml determinado por ensaio imunoenzimático e ausência de células superficiais ou intermediárias no esfregaço vaginal.

Duas cadelas de 25 e 34 meses de idade nunca haviam exibido estro antes. As outras 8 cadelas estavam em estágios conhecidos depois do estro anterior; incluindo 7 cadelas anestro-normal, em cinco a oito meses aproximadamente depois do último estro, e uma cadela anestro persistente, com aproximadamente 24 meses depois do último estro.

Tratamento: Cada cadela recebeu diariamente uma injeção IM de hMG (75 UI de LH e 75 UI de FSH por 75 UI ampola). A droga liofilizada foi diluída em 3 ml de solução salina imediatamente antes da injeção.

Das 10 cadelas 7 receberam injeções diárias de 75 UI hMG por 9 dias. Em 2 cadelas o tratamento foi interrompido por 1 dia (dia 4 ou 5) e então continuado até a nona injeção. Em um caso, o tratamento foi interrompido depois de 7 dias devido à resposta antecipada de proestro da cadela.

O dia da primeira injeção de hMG foi considerado o dia 0 de tratamento.

Observação e Cruzamento: Durante o tratamento as cadelas foram examinadas diariamente, incluindo esfregaço vaginal e observações de edema vulvar, vaginoscopia e descargas serosanguinolentas.

Os esfregaços vaginais foram obtidos e classificados, tendo sido corados através do método tricrômico de Schorr. seguido de fixação com spray citológico comercial. Índices eosinofílicos também foram determinados.

As cadelas foram testadas para comportamento estral diariamente, começando quando o esfregaço vaginal apresentava  = 90% de células epiteliais superficiais. Os cruzamentos foram permitidos dias depois da observação do estro.

LH e Progesterona séricos: Com poucas exceções, as amostras de sangue foram obtidas 1 a 2 dias antes do tratamento, no primeiro dia do tratamento e em dois dias consecutivos durante o tratamento.

Nas cadelas que responderam com proestro, o sangue foi coletado de um a cinco dias de intervalo do médio-proestro (50% de cornificação) até o nível sérico de progesterona ser maior que 7,5 ng/ml baseado no nível de progesterona.

Em 2 cadelas as amostras foram colhidas diariamente enquanto que em outras duas as amostras foram colhidas a cada 3 a 4 dias durante a indução do proestro e estro.

A progesterona foi determinada por RIA em todas as amostras e o LH foi determinado nas amostras coletadas durante o período de crescimento ovulatório.

Para cada ciclo induzido, o dia de surgimento de LH pré-ovulatório foi determinado baseado nos picos de LH detectados pela análise de LH (n=3) ou por interpolação baseado no tempo de aumento inicial de progesterona (n=3), mas excluindo os dias que o LH não aumentou.

A ovulação foi considerada como ocorrida se a concentração de progesterona fosse  = 2ng/ml por = 10 dias ou se a prenhez ocorresse.

Resultados: Das 10 cadelas 9 mostraram proestro, edema vulvar, descarga serosanguinolenta e aumento do número de células epiteliais no esfregaço vaginal entre 3 a 9 dias de tratamento. Três cadelas apresentaram edema vulvar e descarga serosanguinolenta pouco significativas durando somente 2 a 3 dias. Seis cadelas demonstraram forte resposta de proestro ( = 90% de células superficiais no esfregaço e evidente comportamento estral ). A ovulação ocorreu durante um estro aparentemente normal. Dessas cadelas 4 ficaram prenhes e pariram ninhadas normais. A resposta inicial foi semelhante em 3 das 4 cadelas: o proestro começou no sexto ao décimo dia e durou 9 a 11 dias, o estro iniciou-se do décimo sexto ao vigésimo dia e durou 6 a 8 dias. A primeira elevação na progesterona = 1 ng/ml e/ou pico de LH ocorreu do décimo quinto ao décimo nono dia.

As gestações foram normais e as cadelas deram filhotes nos dias 82, 83 e 85 dias após o início do tratamento.

Nas 4 cadelas que ficaram prenhas o proestro começou no terceiro dia e uma cornificação vaginal extensiva ocorreu no sexto dia. O tratamento foi interrompido após o sexto dia para evitar superestimulação ovariana. O primeiro crescimento de progesterona e o pico de LH ocorreram no sétimo dia. As cadelas foram inseminadas no nono e décimo segundo dia e um filhote foi removido por cesariana 71 dias após o começo do tratamento.

Cada uma das 4 gestações foi normal e resultaram em ninhadas de 1 a 13 filhotes cada. A média do tamanho da ninhada foi de 6,7 ± 2,1 filhotes. O intervalo proestro, estro, surgimento do LH e parto foram 6 ± 1, 16 ± 2, 14  ± 1 e 80 ± 3 dias do começo do tratamento respectivamente

Duas cadelas ovularam mas não ficaram prenhas. Em uma delas, o proestro e estro foram breves, mas a progesterona aumentou no décimo sexto dia e ficou elevada por = 40 dias. A outra teve proestro e estro similar àquelas que ficaram prenhas, com tudo a duração de função luteal além de 10 dias não foi determinaram.

As cadelas de resposta fraca mostraram apenas pequenos acréscimos na porcentagem de células epiteliais cornificadas (15 a 20 %). As 6 cadelas restantes apresentaram > 90% de células superficiais pelo oitavo a décimo quinto dia e um índice máximo eosinofílico atingindo 53  97% no oitavo a vigésimo quinto dia.

Para cada cadela com esfregaço vaginal semelhante ao estro, oportunidades de cruzamento foram fornecidas cada 2 a 3 dias depois do começo do estro até o início do diestro.

Todas as 6 cadelas aceitaram monta natural e mostraram comportamento estral normal. Em cada uma das 6 cadelas a concentração de progesterona ficou elevada acima de 15ng/ml enquanto que não havia acréscimos detectáveis nas 4 cadelas que não ovularam.

Das 10 cadelas nove retornaram ao estro entre 1,5 a 12 meses após o tratamento. Nas 4 cadelas não-ovulatórias o próximo ciclo ocorreu 42 a 114 dias depois do início do tratamento. Das 6 cadelas que ovularam cinco tiveram o próximo ciclo entre 240 a 360 dias após o ciclo induzido.

A cadela que não havia exibido ciclo antes do tratamento não teve um segundo ciclo durante 600 dias de observação após o estro induzido.

A dosagem diária de hMG relativa para o peso corporal nas 6 cadelas que ovularam (4,1±2,2 UI/Kg) não diferiu (P>0,2) das 4 cadelas que não ovularam ou que responderam com proestro (2,5±1,1 UI/Kg).

Discussão: O hMG é capaz de induzir estros férteis em cadelas. A porcentagem de prenhez de 40% para as cadelas tratadas é semelhante ao reportado para outros regimes gonadotróficos (PMSG ou FSH apenas, ou em combinação LH ou hCG).

A dose de hMG por cão por dia foi selecionada por conveniência e não foi relacionada ao peso corporal. A dose diária resultante foi de 1,1 a 6,8 UI/Kg de peso corporal, mas não havia indicação clara de resposta dose-dependente.

Em 5 cadelas as ovulações ocorreram vários dias após o final do tratamento. Nestas cadelas a ovulação foi espontânea e ocorreu em resposta a uma carga endógena de gonadotrofina, que ocorreu como resultado da indução da fase folicular pelo hMG, e não foram respostas intensas as injeções individuais de hMG.

Três cadelas em considerável anestro prolongado responderam ao tratamento e ovularam enquanto que uma delas não ficou prenhe, isso pode indicar que induzir estro em cadelas de anestro prolongado pode ser mais fácil que em cadelas de ciclo normal.

A cadela que ficou prenhe na indução do estro aos 25 meses de idade, mas depois falhou em ciclar novamente por mais de 600 dias pode representar um caso de defeito pituitário ou hipotalâmico.

6. LEVANTAMENTO EM CLÍNICAS VETERINÁRIAS

Um pequeno levantamento foi realizado em clínicas veterinárias na tentativa de ilustrar melhor a importância das alterações do ciclo estral e evidenciar como ocorrem estas patologias, em que grau, e se normalmente são diagnosticadas e tratadas.

Para isso foi elaborado um questionário, englobando as principais questões sobre o assunto. Esse questionário, juntamente com uma carta de apresentação, foi deixado em 35 consultórios ou clínicas veterinárias na cidade de São Paulo, e enviado por e-mail para 44 consultórios ou clínicas veterinárias para várias cidades brasileiras, dois questionários foram enviados por fax. Destes questionários enviados  38 foram respondidos.

7. CONCLUSÃO

Apesar de sabermos da ocorrência e importância dessas patologias, nos surpreendemos quando a maioria dos questionários respondidos apontava para uma incidência relativamente alta das alterações do ciclo estral.

Contudo, outra surpresa foi perceber que apesar da literatura fornecer vários protocolos de diagnóstico e tratamento para as diversas alterações do ciclo estral, na prática muito pouco é realmente utilizado; segundo os questionários respondidos, em 76 % das vezes a causa não é diagnosticada,  principalmente por falta de interesse dos proprietários (43 %) e por falta de recursos financeiros (32 %).

Ainda quando a causa é diagnosticada raramente o tratamento é realizado, alguns médicos (as) veterinários (as) nos informaram que nunca haviam realizado tratamento específico. Quando o tratamento é feito, a maior motivação ocorre quando a saúde da cadela está sendo prejudicada (35 %), quando a anormalidade traz incômodo ao proprietário (29 %) ou quando há interesse em cruzar o animal (26%).

Na nossa opinião, além do problema financeiro,  muitas alterações não são diagnosticadas e/ou tratadas porque o proprietário não vê vantagem nisto; quando não há interesse em cruzar o animal, e essa alteração não gera incômodos ao proprietário, ao contrário às vezes pode beneficiá-lo; evitando alguns transtornos como secreção vaginal sanguinolenta, atração de machos entre outros;  este então não vê motivos para realizar diagnóstico e tratamento, que muitas vezes é dispendioso e trabalhoso.

Ainda que as técnicas de diagnóstico e tratamento apresentadas nesse trabalho não sejam aplicadas rotineiramente pelos médicos veterinários, é de fundamental importância para os criadores, já que uma cadela infértil traria grandes prejuízos econômicos a estes, portanto o tratamento certamente valeria a pena. Com o passar dos anos talvez essa realidade mude e as técnicas passem a ser difundidas e utilizadas com maior freqüência, até mesmo pelos proprietários de animais de estimação.

4 Comentários

  1. clinton disse:

    Ola! Tudo bem?? Minha cachorra fez uma inseminação.. Hoje dia 25/08 faz 14 dias q acorreu a inseminação.. E.notei q ontem.. Saiu umas 2 gotinhas de uma secreção bege.. Clarinha.. Isso seria normal??? Por favor me responda assim q puder.. Me mande no email.. Estou desesperado..

    • Santé Laboratório disse:

      Olá, o processo de inseminação é bastante seguro e hoje é uma das ferramentas para os criadores. Entretanto, é um processo que requer cuidados especiais.
      A liberação de secreção pode estar relacionada a uma série de possibilidades (patológicas ou não).
      Sugiro que entre em contato com o profissional que realizou a inseminação (Médico Veterinário) para examinar seu animal.
      Caso as dúvidas persistam, entre novamente em contato. Grande abraço. Gláucia Dias

  2. Ingrid disse:

    Boa tarde!

    Minha cachorra (Buldogue Frances) esta indo para o 2º cio agora em Junho. Vou cruzá-la nesse cio por inseminação artificial. No ano passado ela teve um prolapso vaginal quando entrou no seu primeiro cio, segundo o veterinário dela esse problema pode aparecer mais vezes durante os proximos cios dela. Eu quero cruzá-la agora nesse segundo cio, como sera por inseminação artificial a minha pergunta é: Se na fase que ela estiver ovulando aparecer esse prolapso ela poderá mesmo assim fazer a inseminação artificial e depois operar para tirar esse tumor? Ou sem chances nenhuma de fazer essa inseminação se esse problema voltar a ocorrer durante a fase de ovulação?

  3. Priscilla Schaefer do Nascimento disse:

    Tenho um caso bem interessante aqui, uma chihuahua de 12 meses, que esta entrando no cio em intervalos muito curtos, sendo o primeiro em 06/06, o segundo em 03/08 e o terceiro 05/09, neste ultimo fizemos exame de sangue rotineiro, e esta tudo ok, fizemos progesterona no dia 15/09 com resultado de 2.73ng e citologias vaginais nos dias 17/09, 20/09 e 23/09 condizentes com o periodo de estro, hoje dia 25/09 – 22 dia no cio, a femea continua com edema vulvar, atrativa a machos e permitindo copula, secreção transparente saindo da vulva. Essa femea é de grande valor genetico e não pretendo castra-la antes de tentar tudo que puder para resolver isso. Ela foi coberta por macho fertil neste cio atual dos dias 17/09 a 20/09, monta natural. Se puderem me dar uma luz do que posso tentar fazer para descobrir o porque desses cios longos e com intervalos curtos, agradeço!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

* Copy This Password *

* Type Or Paste Password Here *

Popups Powered By : XYZScripts.com